Close the door

Uma tarde morna é o bastante para ter pensamentos caóticos. Uma hora é o suficiente para transcrever alguns deles para o papel - ou para o computador, neste caso xD

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Escuro. Ela não enxerga os próprios pés, mas vê a sua frente milhares de formas. Borrões, silhuetas que se movem ao som da guitarra, punhos levantados. As luzes provenientes do palco iluminam aquela multidão, dão brilho às faces molhadas de suor - o calor humano é intenso - e lágrimas. Essas lhe parecem familiares.
Olha ao redor e vê conhecidos, a mesma emoção instaurada em seus corpos cansados. Não entende. As sinapses que levariam prazer ao seu cérebro estão bloqueadas. "Por quê?". Não sente. Tenta ouvir a música, mas tudo parece distante e alheio ao seu pequeno universo. Segura a mão de seu amigo - ou devemos considerá-lo um amante? -, mas esse continua extasiado pelo momento.
Frio. Um sopro gelado encosta em seu ouvido, fazendo com que um arrepio passe de leve por todo seu corpo. Luta pelo cair de uma lágrima, mas seus olhos estão secos. Grita, e ouve... um eco. Breu. Sente o peso de toda uma vida cair sobre si, suas pernas e braços fraquejam até chegar ao chão. Encosta a mão no próprio rosto e sente algo úmido. Um som metálico ao seu lado.
Vermelho. A claridade - não se sabe de onde vem - permite a ela enxergar. O líquido rubro escorre por entre seus dedos. Tão belo. Consegue, finalmente, sentir. Perde-se ao ouvir as gotas em meio àquele caos. Uma por segundo. À sua direita uma poça. Um corpo. A fonte de todo aquele sangue. Esse, que conseguira fazê-la sair de toda sua apatia momentânea. Guarda a faca, ninguém a nota. Nenhum ser humano era capaz, naquele momento, de perceber o que aquela garota fizera. Levanta-se e lentamente caminha para a saída.
O rosto frio, as mãos sujas, condenando o assassinato daquele que um dia fora seu amado.
- Tanto faz.

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Love can be deep inside, love can be suicide (...)
Got to get you into my life - The Beatles