quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Breve descrição do Caos II

- Quando tudo parece exercer pressão e me incomodar, fujo para o meu mundo, ouvindo a minha música no escuro completo.
- Seu mundo é vasto e convidativo, porém incompleto. Neste lugar, não há cores ou linhas, as formas não sobrevivem; somente sua voz ecoa no éter que envolve esta paranóia simplista. Ao menos não é preciso perguntar “quem sou eu”, afinal você sabe que é um pouco de tudo e nada e muito de vice-versa. O meu mundo você já conhece.
- Não. Felizmente ou infelizmente sequer estou próxima disto.
- O meu mundo é um abismo. Enorme abismo composto pela matéria Nada. Cantinho empoeirado onde tudo se faz e nada se cria. Cataclismo. Não, calmaria. Talvez a divisão entre elevações e mundos alheios acabou por originar esta casa de número zero.
- Você se sente bem neste lugar?
- Muito bem, obrigado. Aprendi a sorrir e a aprender a importância da alegria frente à escuridão. Há, contudo, uma troca equivalente. À medida que algo é criado, o abismo expande. Quer saber?
- O que?
- Asas. Aprendi a arquitetar asas com um caro amigo arcanjo. Não sei se aprendi a voar, mas este pecado para mim se tornou divino. Mesmo expandindo vertiginosamente, abismo nenhum impedirá este jovem lunar de alcançar sua meta.
- Voar?
- Além. Materializar-me além, transpor-me sobre o sagrado por um instante, voar como flecha de aura por sobre os céus e aterrissar no mundo onde não há cores ou linhas e as formas não sobrevivem. Éter. Eternizar.
- Bobo. Estou gostando disso.
- Alegria, se lembra? Hora de impactar no breu.